Quando o
ônibus parou defronte da escola, Paulo se dirigiu ao local em que se encontravam
os meninos. Ele tinha dez anos de idade mas era grande, bem desenvolvido. Podia
avantajar-se aos demais, conseguindo o melhor assento, perto da janela. Sua
teoria era: “Quem primeiro chega, melhor é servido”.
Certa vez
tomou seu lugar, como de costume, junto da janela, e ocupou a maior parte do
banco, de tal maneira que o companheiro ficou mesmo na ponta.
Paulo
lançou um golpe de vista ao colega de viagem e percebeu que era mais ou menos
de sua idade. Era desconhecido, porém. Sua vestimenta era semelhante, mas Paulo
estava com as mãos sujas, ao passo que o vizinho tinha as mãos bem limpas.
Paulo sentiu atração por ele e, quase sem se sentir, afastou-se para lhe dar
mais lugar no banco. O rapazinho sorriu e disse: “Muito obrigado”.
Isto fez
com que Paulo se sentisse bem. Viu que um pouco de cortesia não fazia mal
algum, de quando em quando. Desejou fazer amizade com ele.
Paulo não
era um menino mau. Era apenas egoísta. Não tinha irmãos e ficava como que
solitário. E quando se relacionava com alguns companheiros, a amizade durava
pouco tempo. Não sabia conservar os amigos. Logo cortavam as relações de
amizade com ele.
A mãe
notara isto. “Temo que você goste muito de mandar, Paulo”, disse ela, “por isso
que seus amigos fogem de você. Não procure estar só mandando. Dê oportunidade
aos outros, também. Não seja egoísta”.
O filho
não respondeu. Não gostava de ser criticado. A mãe dele era viúva e trabalhava
num escritório, para poder mantê-lo.
Estava sempre cansada, e não dispunha de mais tempo para cuidar do menino.
Quando o
ônibus parou, o menino desceu juntamente com Paulo e saíram ambos na mesma
direção. “Moro nesta rua”, disse ele.
Paulo
sorriu. “Nunca tinha visto você. Como se chama? Meu nome é Paulo”.
“O meu é
David”, respondeu o outro. “Nós nos mudamos para aquela casa faz poucos dias”.
E apontou para o edifício que ficava algumas casas da de Paulo.
“Então
somos vizinhos!” Exclamou Paulo, com um sorriso de felicidade. Ele desejava que
David o houvesse simpatizado, para se tornarem bons amigos. Pensou que a mãe
tivesse razão, na advertência que lhe fizera, e decidiu não mandar tanto em
David, se fizessem amigos.
Quando
chegaram defronte da casa de Paulo, David disse: “Até logo. Amanhã nos
encontraremos de novo”, e prosseguiu caminhando.
“Alô”!
Bradou Paulo. “Por que não entra para brincarmos no quintal? Não tenho o que
fazer até que minha mãe venha do trabalho, e terei prazer em sua companhia”.
“Sinto
muito, Paulo”, respondeu David. “Tenho que ajudar minha mãe. Atendo a mandados
e cuido de meus irmãozinhos”.
“Bem”,
disse Paulo, em voz baixa, mas realmente não compreendia a situação. Ele nunca
ajudara à mãe, a não ser indo ao armazém, de bicicleta, para fazer compras,
algumas vezes.
“Você não
quer ir comigo”, disse David, “para que minha mãe o conheça? Ela gosta de
conhecer meus amiguinhos”.
Paulo
concordou. “Vá caminhando, David, que irei guardar meus livros”. Estava muito
feliz com o novo amigo, mas não queria dizer-lhe que ia lavar as mãos, antes de
chegar lá.
Alguns
minutos depois, Paulo se encontrava defronte da casa de David. O rosto e as mãos estavam limpos e o cabelo bem
penteado, mas ele se sentia acanhado. Se David não houvesse aparecido
imediatamente para encontra-lo, ele teria voltado para casa. Foi um prazer,
porém, encontrar a mãe de David. Ela o cumprimentou alegremente, com muito
carinho. Era uma senhora ainda jovem. Paulo sentiu-se muito bem.
Não pôde,
porém, demorar-se muito lá, porquanto tinha que vigiar a casa. Costumava
andar de bicicleta, ao redor da residência, ou ler alguma coisa, até a hora da
chegada da mãe. Desta vez, porém, ao chegar em casa, lembrou-se de como David
ajudava à mãe. Quis imitar o bom exemplo.
Foi à
cozinha e lavou todos os pratos, porque a mãe não tivera tempo de lavá-los
antes de sair.
Quando ela
chegou e viu os pratos lavados, tudo arrumado, chorou de alegria, abraçou o
filho e beijou-o.
Paulo
contou-lhe do novo amigo e disse que iria deixá-lo mandar também.
Na manhã seguinte, quando estavam esperando
o ônibus, havia duas meninas para tomarem o veículo. Paulo observou que David,
em lugar de subir primeiro no ônibus, afastou-se e gentilmente deixou que as
meninas subissem antes. Paulo seguiu-lhe
o exemplo.
Afinal,
Paulo chegou à conclusão de que é agradável ser gentil, cortês e bondoso. Foi
uma felicidade encontrar um bom amigo.
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