Numa
pequena choça, no alto de uma colina de onde se avista o verde mar, vivia um
jovem pescador chinês. A choça era deveras pequena. Consistia apenas num
quarto, atrás do qual ficava um alpendre que servia de cozinha. As paredes e o
soalho eram de barro batido e encarnadas telhas formavam o teto. A cama, ou
melhor, algumas tábuas sobre dois bancos, duas tripeças e uma pequena mesa
constituíam a singela mobília. Do outro lado oposto à porta, achava-se uma mesa
alta e estreita, onde se encontrava o ídolo de barro pintado, dos pescadores.
Ladeavam encarnadas velas em candelabros de metal branco e a sua frente ficava
a pesada taça de bronze, cheia de cinzas provindas das barras de incenso.
Toda
manhã, antes de sair à pesca, o jovem chinês Khiok-ah apanhava duas novas
barras de incenso, segurava-as diante do ídolo, agitava-as no ar, e colocava-as
na taça, rogando dessa maneira as bênçãos do ídolo para sua pesca. Assim fazia
toda manhã, com fé singela no poder que deveria ajudá-lo.
Isso
aconteceu por muito tempo. Certa ocasião nosso amigo chinês precisou ir a uma
aldeia distante e não podia estar de volta no mesmo dia. Não havia ninguém para
queimar incenso ao ídolo, no tempo designado. No entanto, para a fé sincera de
Khiok-ah, isto não apresentava dificuldade. À hora de sair, tirou do pacote
vermelho duas barras de incenso, e colocou-as diante do ídolo com uma caixa de
fósforos. Em seguida, inclinando-se reverentemente, disse: “Ó espírito, hoje
devo ir a negócios a um lugar distante e não poderei estar de volta em tempo de
queimar-te incenso. Diariamente, sem faltar, tenho feito isto; mas somente
desta vez, queima-o tu mesmo. Repara, aqui estão diante de ti, as barras de
incenso e os fósforos. Somente desta vez, acende tu mesmo, por favor”. E
retirou-se logo.
Ao
regressar, para sua surpresa, não viu as espirais de fumo que deveriam ascender
da taça de incenso. Aproximando-se e investigando melhor, deparou com as barras
de incenso e os fósforos justamente como os havia deixado. Então, cheio de ira,
volveu-se para o ídolo e disse: “Por muito tempo tenho queimado incenso diante
de ti e nunca o deixei de fazer. Somente dessa vez pedi que o queimasse por mim
e não o fizeste. Será que não podes? Bem, um deus que não tem poder para
ascender sua própria barra de incenso, certamente não tem poder para ajudar-me.
Por isso não adorarei mais a nenhum deles, até encontrar um capaz de ascender
sua própria luz”.
Passaram-se alguns anos. Khio-ah abandonou sua choça de pescador e teve
oportunidade de freqüentar uma escola. Um de seus colegas era cristão e veio, a
saber, o voto que ele fizera. De modo que certo dia, o cristão lhe disse:
- Amigo,
queres amanhã de madrugada, subir comigo ao cume de uma colina? Tenho alguma
coisa para mostrar-te.
Khiok-ah
aceitou ao convite e na manhã seguinte, antes do nascer do sol, saíram juntos
os dois amigos. A todas as perguntas do chinês, o nosso bom cristão respondia:
“Espera e verás”.
Chegaram
afinal ao cume da colina, quando os primeiros clarões tingiam de púrpura o céu
oriental. Enquanto observavam o maravilhoso alvorecer de mais um dia, viram o
sol surgindo em toda sua glória e esplendor.
- Repara,
disse o amigo cristão, o Deus que eu adoro é Todo-poderoso. Toda manhã Ele
acende Sua luz e espalha claridade, alegria e vida em todo o mundo.
Desde esse
dia, Khiok-ah dedicou a vida ao Deus que tinha poder para acender Sua própria
luz. Tornou-se mais tarde um pregador, mostrando a outros o caminho para o
verdadeiro Deus. Mas jamais esqueceu o amigo que por uma ilustração simples, o
guiou à verdadeira Luz.
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