Uma vez,
há muito tempo, uma linda menina brincava com tranqüilidade que tão bem
caracteriza o espírito infantil. Sua mãe, da janela onde tecia um tapete,
vigiava com indizível ternura seu rico tesouro ao qual dedicava tanto amor! De
repente, ao longe, nuvens de poeira levantavam-se como que anunciando a chegada
de apressados visitantes. O olhar calmo e meigo, da mãe bondosa, tornou-se
aflito quando divisou tropas de estrangeiros dominadores de sua raça.
- Ó filha,
esconde-te – diz a mãe. Avisarei teu pai que os soldados estrangeiros se
aproximam. Que desejarão eles, agora? E, tomada de aflição e medo, entrou à
procura do marido.
Enquanto isto,
a pequenina de olhos pretos, bem pretos e brilhantes, hesitava entre o desejo
de esconder-se e a curiosidade de ver de perto soldados uniformizados e tão
estranhos. A curiosidade venceu-a e ali se quedou, sozinha, com olhar
inquirido. Foi então que o mais importante dentre os soldados viu-a ali e,
achegando-se a ela, disse:
- Não me
temes, pequena?
- Não, meu
senhor. O meu Deus sempre cuida de mim.
- O teu
Deus, menina? Confias, então, muito, n’Ele?
- Oh,
muito, meu senhor. Ele nunca deixou de atender-me.
A esta
altura, a mãe pressurosa corre à porta e depara a filha entre os soldados.
Bruscamente agarra-a, tentando levá-la consigo. – Mulher, diz-lhe o chefe dos
exércitos estrangeiros, és nossa escrava, tu e toda a tua raça. Permitirás que
eu leve tua gentil e corajosa filha para companheira de minha esposa?
A pobre
mãe, aturdida com a pergunta, afasta-se com lentidão, estampando na face grande
amargura. Não tinha dúvidas que não lhe seria permitido negar sua filha, uma
escravazinha, para o serviço de uma nobre e ilustre dama estrangeira. Preparou
a roupa da pequena e os três, ajoelhados na humildade daquela casa pobre,
mostraram a riqueza que possuíam – a fé em um Deus verdadeiro que os ouvia e
consolava. Levantaram-se tranqüilos, embora tristes pela separação, e ajudaram
a pequenina a partir em um dos carros
daquele exército.
Agora,
numa casa rica, andava a menina, ora a varrer todos os cantinhos daquelas salas
esplendorosas, não deixando nem o cisco ficar sob os fofos tapetes; ora a
procurar belas flores para adornar o lar de seus bondosos senhores. Ela soubera
fazer-se querida pela maneira franca de falar só a verdade, pelo modo cuidadoso
com que realizava suas tarefas.
Um dia seus senhores estavam muito tristes.
Não havia médico que proporcionasse a cura de seu senhor que era um grande
general em sua terra. A menina amava-o e respeitava-o. Lembrou-se então de
enviá-lo a um grande homem que poderia curá-lo. O general não hesitou em
atender à sugestão da escravazinha. Procurou,
com incontida ansiedade, esse grande homem do qual ela lhe falara. Foi
realmente curado de uma moléstia julgada
por todos incurável! Voltou com o coração a transbordar de alegria por conhecer
também uma pequena que sempre falava a verdade, só à verdade!
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