Tinha
Tomás treze anos de idade, e freqüentava uma escola da missão localizada no
sopé dos montes Himalaia, ao norte da Índia. Era inverno, e havia neve por toda
parte, cobrindo florestas, campos e veredas com grosso lençol branco.
Uma tarde,
depois da reunião na capela da missão, pediram a Tomás que acompanhasse uma
senhora idosa que voltava ao lar, cuidando de que chegasse sã e salva ao
destino. Isto significava uma caminhada de cinco quilômetros através da neve.
Parecia longa a jornada, pois naturalmente a idosa senhora não podia andar muito
depressa. Finalmente, contudo, os dois chegaram seguros à casa da anciã, e
Tomás voltou para a escola.
Então
começou a notar que já era bem tarde. O sol estava preste a se esconder, e logo
escurecia. De repente lembrou-se dos leopardos da neve e começou a correr. Se
havia uma coisa que desejava evitar, era encontrar-se com um destes animais
selvagens depois do escurecer.
Diferente
do leopardo comum, de pêlo pardo e manchas pretas, o leopardo da neve tem pêlo
acinzentado e manchas vermelho-pardas. É fera horripilante e difícil de ver
contra a neve, sendo perigosa quando faminta ou molestada. No inverno, descem
dos planaltos, procurando alimento até nos lugares povoados. Seus rastos sempre
eram vistos na floresta que ficava perto da missão, e que agora estava entre
Tomás e a casa.
De modo
que correu, mas não tão depressa como gostaria. Dentro de pouco tempo escureceu
por completo. Entrou na floresta. Decorridos poucos minutos percebeu que era
seguido. Voltando-se, viu um par de olhos fitos nele, brilhando na escuridão.
Era um leopardo da neve. Ousadamente marchou para o animal, que se desviou do caminho.
Aí foi que
Tomás começou a orar como nunca dantes. Orava, enquanto corria. Então viu
novamente os olhos. Tomás correu novamente
até pressentir que o leopardo
estava mais perto. Parou; fitou-o nos olhos
e correu novamente. Durante todo o tempo estava orando por auxílio.
O leopardo
da neve estava agora bem perto. ...
Justamente
aí chegou a uma encruzilhada no caminho. Um trilho desviava-se para a esquerda;
o outro, através de um trilho bem íngreme, levava à porta dos fundos da escola
da missão. Qual seguiria, com o leopardo tão perto de si?
Nesse
momento alguma coisa atravessou o trilho correndo, bem na sua frente.
Parecia-lhe ser um homem, mas na escuridão da mata não podia dizer quem ou o
que era. Mas pensou que isso confundiria o leopardo, e que ele perderia a
pista. E tinha razão.
Quando o
estranho passou para um lado, ele seguiu para o outro, subindo a toda o curto
atalho em busca de segurança.
Encontrei-me com Tomás um dia destes. Disse-me ele que, apesar de se
terem passado vinte e cinco anos desde aquela terrível noite, nunca deixou de
agradecer a Deus por livrá-lo do leopardo da neve.
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