sábado, 21 de dezembro de 2013

AS SEMENTES DE ABÓBORA REVELAM UM SEGREDO




    Acaso já alguma vez trabalharam vocês quando desejavam brincar? Se assim foi hão de imaginar o que sentiu o menino desta história ao ter que ficar em casa e trabalhar na roça enquanto os companheiros iam nadar.

   O pai de Eduardo era fazendeiro nos primitivos tempos. Naquela época de desbravadores, a maior parte da terra achava-se coberta de florestas, e não tinha fim o trabalho por fazer. Havia nas matas animais selvagens que penetravam de quando em quando nas plantações em crescimento. As  raposas e gambás comiam os frangos e perus. Estando pronto o trabalho regular da fazenda, havia sempre mais terras para limpar. Isso queria dizer derribada de grandes árvores e arrancamento de enormes tocos. E depois, também, Eduardo era o único rapaz da família.

   Certa manhã, na estação própria, disse o pai ao filho:
    - Eduardo, quero que você leve algumas sementes de abóbora à roça, e as plante numa carreira de milho sim, e noutra não. Quando as tiver plantado todas, pode ir nadar.
    Era fácil compreender, pela fisionomia de Eduardo, que ele não estava contente. Era feriado, e os meninos da vizinhança, que residiam alguns quilômetros de distância, iam nadar no rio, mas ele tinha de passar a manhã plantando aboboreiras. Fizera esse trabalho noutros anos, e sabia que se pusesse apenas três ou quatro sementes em cada cova, levar-lhe-ia a manhã inteira para plantar a roça  toda.
   Parecia-lhe, enquanto trabalhava, que a roça crescera muito desde a última vez que a plantara, um ano antes. E ia abaixo e acima nas longas filas, sentindo-se cada vez  mais mal. Estava tão aborrecido que sequer ouvia o cântico dos pássaros, conquanto em geral procurasse responder aos seus trinados.
   Ouviu então um convite que o fez ferver interiormente, eram os rapazes vizinhos, de caminho para o rio.
    - Tem de trabalhar, hein, Edu? Nós vamos nadar. Você não deveria trabalhar nos feriados. Poderá vir à tarde?
    Isso foi demais para Eduardo.
    - Esperem um minuto, exclamou ele. Eu vou agora.
    O vento soprava na direção contrária, e os rapazes não ouviram Eduardo dizer que ia nadar também. De modo que não viram o frenesi com que cavou junto à grande pilha de galhos, próximo ao mato. Eduardo estava ofegante ao chegar junto aos seus companheiros.
    - Mas você não tinha de trabalhar esta manhã? Perguntaram. Já plantou todo o campo?
    - Sim, já plantei todas as sementes, disse Eduardo, pondo-se a assobiar uma canção. Como se havia mudado a expressão de sua fisionomia! Desaparecera-lhe a carranca, mas fosse como fosse, não tinha ar muito natural, embora procurasse agir como quem se sente feliz.
    - Não conseguiu por certo plantar já todas aquelas sementes, não foi? Indagou o outro rapaz.           Sim, cada semente está na terra. Mas se entendo de sementes, aposto que não muitas delas vão vingar, pois não me parecem em muito bom estado, talvez este não seja um ano bom para abóboras.
    Nadando com os rapazes, a manhã passou rápido para Eduardo; depois vestiu-se e apressou-se em voltar pelo campo, chegando a casa, de enxada ao ombro, à hora do almoço.
    A primeira coisa que o pai perguntou:
    - Então, filho, você plantou todas as sementes?
    - Sim, papai, cada semente está na terra. Mas não me parecem muito boas. Duvido que vão nascer todas.
     Pensava ele que esta declaração haveria de preparar o pai para a surpresa, quando nenhuma aboboreira brotasse em grande parte do campo.
    Mas eram boas as sementes, e nascerão bem. Nas leiras em que Eduardo as plantou não falhou um só pé. Mas em muitas das filas de milho não havia nenhum pé de abóbora. Estava bem evidente onde ele havia parado de plantar naquela manhã, quando os rapazes passaram.
    E o lugar onde enterrara o resto das sementes, próximo a pilha de galhos, junto à mata, não se podia ocultar. Ele pensava que as tinha enterrado tão fundo que elas nunca haveriam de brotar. E que o pai pensaria que estivesse plantado o campo todo. Mas junto à velha pilha vieram a crescer centenas de aboboreiras, e, conquanto estivessem tão juntas que algumas morreram, uma porção delas vingou, mas treparam sobre a pilha, e no verão pareciam como um manto verde salpicado de amarelo.
    Eduardo não escondera seu mal feito. As sementes de abóbora revelaram-lhe o segredo. Toda vez que olhava na direção do milharal sentia-se condenado. E uma porção de vezes, quando o pai se dirigia para ali, Eduardo notava-lhe no rosto uma expressão de tristeza. Ele não repreendeu o rapaz, nem disse coisa alguma a respeito das abóboras.
    Um dia, sentindo-se Eduardo com a consciência perturbada acerca desse negócio, procurou o pai dizendo a verdade quanto a não haver aboboreiras naquela parte do campo.
    - Fui nadar aquela manhã, papai, enterrei a maior parte das sementes à pilha de galhos, no fundo do campo.
    - Sei, tudo respondeu-lhe o pai.
    - Mas, quem lhe contou, papai? Indagou-lhe o menino.

    - Olhe só para o monte de galhos, filho, e há de ver como o seu segredo foi descoberto. Mas não falemos mais nisso. Estou certo de que você aprendeu a lição, e sei que daqui em diante posso confiar em que meu filho será fiel e honesto. Você aprendeu, filho, que não é possível encobrir as más ações.

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