Acaso já
alguma vez trabalharam vocês quando desejavam brincar? Se assim foi hão de
imaginar o que sentiu o menino desta história ao ter que ficar em casa e
trabalhar na roça enquanto os companheiros iam nadar.
O pai de
Eduardo era fazendeiro nos primitivos tempos. Naquela época de desbravadores, a
maior parte da terra achava-se coberta de florestas, e não tinha fim o trabalho
por fazer. Havia nas matas animais selvagens que penetravam de quando em quando
nas plantações em crescimento. As
raposas e gambás comiam os frangos e perus. Estando pronto o trabalho
regular da fazenda, havia sempre mais terras para limpar. Isso queria dizer
derribada de grandes árvores e arrancamento de enormes tocos. E depois, também,
Eduardo era o único rapaz da família.
Certa
manhã, na estação própria, disse o pai ao filho:
- Eduardo,
quero que você leve algumas sementes de abóbora à roça, e as plante numa
carreira de milho sim, e noutra não. Quando as tiver plantado todas, pode ir
nadar.
Era fácil
compreender, pela fisionomia de Eduardo, que ele não estava contente. Era
feriado, e os meninos da vizinhança, que residiam alguns quilômetros de
distância, iam nadar no rio, mas ele tinha de passar a manhã plantando
aboboreiras. Fizera esse trabalho noutros anos, e sabia que se pusesse apenas
três ou quatro sementes em cada cova, levar-lhe-ia a manhã inteira para plantar
a roça toda.
Parecia-lhe, enquanto trabalhava, que a roça crescera muito desde a
última vez que a plantara, um ano antes. E ia abaixo e acima nas longas filas,
sentindo-se cada vez mais mal. Estava
tão aborrecido que sequer ouvia o cântico dos pássaros, conquanto em geral
procurasse responder aos seus trinados.
Ouviu então
um convite que o fez ferver interiormente, eram os rapazes vizinhos, de caminho
para o rio.
- Tem de
trabalhar, hein, Edu? Nós vamos nadar. Você não deveria trabalhar nos feriados.
Poderá vir à tarde?
Isso foi
demais para Eduardo.
- Esperem
um minuto, exclamou ele. Eu vou agora.
O vento
soprava na direção contrária, e os rapazes não ouviram Eduardo dizer que ia
nadar também. De modo que não viram o frenesi com que cavou junto à grande
pilha de galhos, próximo ao mato. Eduardo estava ofegante ao chegar junto aos
seus companheiros.
- Mas você
não tinha de trabalhar esta manhã? Perguntaram. Já plantou todo o campo?
- Sim, já
plantei todas as sementes, disse Eduardo, pondo-se a assobiar uma canção. Como
se havia mudado a expressão de sua fisionomia! Desaparecera-lhe a carranca, mas
fosse como fosse, não tinha ar muito natural, embora procurasse agir como quem
se sente feliz.
- Não
conseguiu por certo plantar já todas aquelas sementes, não foi? Indagou o outro
rapaz. Sim, cada semente está
na terra. Mas se entendo de sementes, aposto que não muitas delas vão vingar,
pois não me parecem em muito bom estado, talvez este não seja um ano bom para
abóboras.
Nadando
com os rapazes, a manhã passou rápido para Eduardo; depois vestiu-se e
apressou-se em voltar pelo campo, chegando a casa, de enxada ao ombro, à hora
do almoço.
A primeira
coisa que o pai perguntou:
- Então,
filho, você plantou todas as sementes?
- Sim,
papai, cada semente está na terra. Mas não me parecem muito boas. Duvido que
vão nascer todas.
Pensava
ele que esta declaração haveria de preparar o pai para a surpresa, quando
nenhuma aboboreira brotasse em grande parte do campo.
Mas eram
boas as sementes, e nascerão bem. Nas leiras em que Eduardo as plantou não
falhou um só pé. Mas em muitas das filas de milho não havia nenhum pé de
abóbora. Estava bem evidente onde ele havia parado de plantar naquela manhã,
quando os rapazes passaram.
E o lugar onde enterrara o resto das
sementes, próximo a pilha de galhos, junto à mata, não se podia ocultar. Ele
pensava que as tinha enterrado tão fundo que elas nunca haveriam de brotar. E
que o pai pensaria que estivesse plantado o campo todo. Mas junto à velha pilha
vieram a crescer centenas de aboboreiras, e, conquanto estivessem tão juntas
que algumas morreram, uma porção delas vingou, mas treparam sobre a pilha, e no
verão pareciam como um manto verde salpicado de amarelo.
Eduardo não escondera seu mal feito. As
sementes de abóbora revelaram-lhe o segredo. Toda vez que olhava na direção do
milharal sentia-se condenado. E uma porção de vezes, quando o pai se dirigia
para ali, Eduardo notava-lhe no rosto uma expressão de tristeza. Ele não
repreendeu o rapaz, nem disse coisa alguma a respeito das abóboras.
Um dia,
sentindo-se Eduardo com a consciência perturbada acerca desse negócio, procurou
o pai dizendo a verdade quanto a não haver aboboreiras naquela parte do campo.
- Fui
nadar aquela manhã, papai, enterrei a maior parte das sementes à pilha de
galhos, no fundo do campo.
- Sei,
tudo respondeu-lhe o pai.
- Mas,
quem lhe contou, papai? Indagou-lhe o menino.
- Olhe só
para o monte de galhos, filho, e há de ver como o seu segredo foi descoberto.
Mas não falemos mais nisso. Estou certo de que você aprendeu a lição, e sei que
daqui em diante posso confiar em que meu filho será fiel e honesto. Você
aprendeu, filho, que não é possível encobrir as más ações.
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