Pela
quarta vez naquela manhã, Davi correu para casa e perguntou: “Que horas são,
mamãe?”.
“Agora são
nove e vinte e cinco. Você precisa esperar mais trinta e cinco minutos”,
respondeu a mãe dando uma olhada para Davi.
“Está
bem!”, ele concordou, “mas eu queria que o vendedor se apressasse. Quero ver as
panelas novas que ele está trazendo. Você tem certeza que elas podem cozinhar
batatas e cenouras sem água e assim mesmo não queimar?”.
“Sim,
Davi!”, riu a mamãe. “Você vai poder ver com os seus próprios olhos hoje mesmo.
Logo que o vendedor chegar irá fazer o almoço, para que nós possamos aprender
como usar as novas panelas e assim não deixar queimar a comida”.
“É difícil
de acreditar que essas panelas possam ser tão boas”. O tom de voz de Davi
demonstrava que ele não podia acreditar no que sua mãe estava dizendo. “Vou
ficar bem perto para poder ver com meus próprios olhos”.E saiu rapidamente mais
uma vez, saiu para esperar pelo vendedor de panelas que cozinhavam sem água.
O tempo
parecia se arrastar. Será que aquele homem nunca chegaria? Davi se sentou nos
degraus da escada e dava um pulo a cada vez que um carro entrava na rua onde
ele morava.
Finalmente
chegou o vendedor. “Ele chegou! Ele Chegou!” Rápido Davi abriu a porta da
frente e chamou sua mãe.
A mamãe
convidou o vendedor para entrar, e Davi ajudou a carregar algumas das caixas
onde estavam as panelas.
O vendedor
desempacotou as brilhantes panelas. “Muito bem, vamos examinar bem cada panela
para ver se estão perfeitas”, ele disse. “Depois teremos de lavar cada uma
antes de começar a fazer o almoço”.
“Por que
lavar? Perguntou Davi muito surpreso”, elas nunca foram usadas".
“Não”,
disse o vendedor, “elas nunca foram usadas, mas também não foram lavadas depois
do último polimento dado na fábrica. Nós não vamos querer cozinhar alguma coisa
nelas sem ter a certeza de que estejam muito bem lavadas. Isto não será bom
para você e nem para as panelas”.
“Ah, sim”,
respondeu Davi. E ficou observando como o vendedor colocava detergente em uma
esponja e esfregava, com todo o cuidado, as panelas e as tampas. Depois
enxaguou bastante e enxugou cada panela.
“Como
estão lindas e brilhantes!”, exclamou a mamãe, “espero que continuem sempre
assim”.
“Elas
ficarão”, prometeu o vendedor, “quer dizer, se a senhora não usar palha de aço,
e nem outra coisa afiada e áspera para limpar. Lembre-se sempre disto, pois é
muito importante”.
Logo as
panelas estavam lavadas e o vendedor pronto para demonstrar como usar. Pedaços
tenros e brilhantes de cenoura foram colocados dentro de uma panela, ervilhas
em outra e as batatas dentro de outra panela ainda. Colocaram as tampas, mas
não colocaram água. As panelas foram colocadas sobre o fogo e acenderam o gás,
mas colocaram fogo bem baixo.
A mamãe e
Davi se sentaram para conversar com seu novo amigo, o vendedor, enquanto os
vegetais estavam cozinhando. Uma pequena válvula, do tamanho da metade de um
dedal, começou a subir e descer, fazendo um barulho divertido. O vendedor
colocou o fogo ainda mais baixo, até que a válvula ficou em silêncio novamente.
“Esta
válvula é o seu guarda da cozinha”, ele disse, “ela está avisando que o fogo
está muito alto e o alimento poderá queimar se a senhora não abaixar o fogo”.
A mamãe
arrumou a mesa, e logo os vegetais foram servidos. Como estavam gostosos,
cozidos sem água nas panelas novas! E também não estavam queimados.
Depois do
almoço, Davi perguntou: “Posso lavar a louça? Eu gostaria de lavar as panelas
novas”.
“Claro que
sim, Davi. Mas, por favor, tome cuidado com elas”, disse a mamãe.
“Está
bem”, prometeu Davi, preparando-se para o trabalho. Cuidadosamente limpou cada
panela. Ele estava imitando o vendedor na casa de um freguês. Pegou o
detergente e espalhou sobre cada tampa das panelas. Então, por um momento,
esqueceu o aviso do vendedor de somente usar alguma coisa macia, como uma
toalha de papel ou uma esponja, com detergente. Davi pegou a esponja de aço da
mamãe e esfregou e raspou uma mancha imaginária.
Então,
como uma flecha, lembrou-se das palavras do vendedor. “Nunca use palha de aço”.
Davi
parecia ter ficado paralisado. “Oh, não!”, disse para si mesmo, enquanto abria
a torneira para tirar o sabão. Ali, claro como o dia, estava uma mancha, um
arranhão profundo sem possibilidade nenhuma de conserto!
“Que vou
fazer? Que vou dizer? Por que não pensei antes?” Se perguntava Davi
silenciosamente, enquanto secava a tampa. E por mais forte que tentasse, não
conseguia fazer desaparecer a mancha. O coração
de Davi estava pesado.
Ele
terminou de lavar a louça e guardou tudo em seus lugares. Mas deixou as panelas
e as tampas novas em cima da mesa, porque não sabia onde a mamãe iria guardar.
Quando a
mamãe veio para guardar as panelas, imediatamente notou a tampa arranhada. “Oh,
veja o que o vendedor fez quando lavou as panelas”. A voz da mamãe estava cheia
de tristeza, quando pegou a tampa arranhada e olhava cuidadosamente.
“Não,
mamãe”, falou Davi, “ele não fez isto, fui eu quem fiz”.
A mamãe olhou muito surpresa para seu
filho. Depois de um breve momento ela sorriu. “Oh, como estou feliz porque você
me contou. Está tudo bem”. E não disse mais nada.
Davi agora
está bem crescido. Mas o coração de sua mãe fica emocionado, cada vez que lava
a tampa arranhada. É a tampa que ela guardará com todo o carinho e cuidado pelo
resto de sua vida, porque aquele arranhado é uma lembrança de que seu filho não
teve medo de dizer a verdade, mesmo quando teria sido muito mais fácil para ele
ficar em silêncio. E porque ele não teve medo de dizer a verdade, também
conservou bem puro e limpo seu registro lá no Céu.
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