“Clara”,
chamou Paula da frente de sua casa, “espere um minuto! Quero lhe contar uma
coisa”.
E Paula
correu bem depressa para o portão onde Clara estava esperando.
“O que tem
de tão importante?”, perguntou Clara, “parece que você encontrou um milhão de
dólares ou coisa semelhante”.
“Não”,
disse Paula, “eu não achei um milhão de dólares nem coisa semelhante. Eu tenho
um trabalho para esta noite. Eu estava esperando conseguir um trabalho para
poder ajudar a comprar meu uniforme escolar, e agora encontrei. Vou cuidar dos
gêmeos da Sra. Mendes. Ela precisa sair por algumas horas para cuidar de sua
mãe que está doente”.
“Ah, isto,
disse Clara”, eu poderia dizer que é mais do que um trabalho. Eu cuidei dos
gêmeos da Sra. Mendes, uma vez quando eram bebezinhos, mas a Sra. Mendes era
tão crítica e maldosa, que preferi nunca mais trabalhar para ela”.
Clara
começou, bem devagar a caminhar para longe do portão. “Bem, divirta-se”, ela
disse, “talvez você goste da maneira como a Sra. Mendes dá ordens, mais do que
eu”.
Paula
voltou a sentar-se na beira da varanda. Ela se sentia preocupada, será que
Clara estava com inveja? Ou será que é tão difícil trabalhar para a Sra.
Mendes? Paula viu quando Clara dobrou a esquina em direção da casa de Maria.
Era muito bom e divertido ser amiga de Clara e Maria. As duas eram muito
populares, e Paula também se sentia popular quando estava com elas.
A Sra.
Mendes estava pronta para sair quando Paula chegou. “Estou muito feliz porque
você chegou na hora”, disse ela, convidando Paula para entrar em casa. “Este é
um momento muito difícil para mim, me sentiria muito melhor se pudesse
encontrar alguém em quem confiar. Eu gostaria de lhe dizer exatamente o que
espero que você faça, para que possamos nos entender desde o começo. Eu quero
que você me prometa que nunca deixará a
casa, sejam quais forem às circunstâncias. Se alguma coisa errada acontecer com
os gêmeos, quero que me chame imediatamente. Você pode me prometer isto?”
“Sim,
certamente”, disse Paula, “a senhora não precisa ficar preocupada”.
“Estou
sentindo que posso confiar em você”, disse a Sra. Mendes confiantemente, “mas
eu tive uma experiência muito ruim com uma menina que veio cuidar dos gêmeos, e
vivo apavorada desde então. Não quero parecer mal-humorada, ou rabugenta, mas
nossas crianças são muito queridas e muito especiais para nós, e não quero
correr nenhum risco”.
“Eu sei”,
disse Paula, “meus pais são muito exigentes sobre a maneira como devo cuidar de
nosso bebê. A mamãe sempre diz que a segurança dele deve sempre vir primeiro
porque é muito pequeno e indefeso. Se a senhora me der o número do telefone
onde posso encontrá-la, vou colocar bem à vista, aqui na mesa, junto com os
meus livros”.
Logo que a
Sra. Mendes saiu, Paula olhou ao redor para ver se havia alguma coisa que
deveria fazer antes de começar seus deveres de casa. Os gêmeos ainda estavam
dormindo tranqüilamente.
Na cozinha
havia louça que precisa ser lavada. Ela encheu a pia com água quente e colocou
o sabão. Levaria somente alguns minutos, e tudo estaria em ordem quando a Sra.
Mendes voltasse para casa.
Mas antes
que começasse a lavar a louça, ouviu alguém batendo à porta. Ela ligou a luz e
olhou para fora. Clara e Maria estavam paradas no pórtico.
“Vimos
quando a Sra. Mendes saiu”, disse Clara, “e pensamos que você, talvez, gostaria
de dar uma escapadinha por alguns minutos e ir conosco tomar um refrigerante na
lanchonete. Você não ficará fora mais de meia hora”.
“Eu não
posso ir”, disse Paula, “prometi para a Sra. Mendes que não deixaria a casa.
Pode acontecer alguma coisa com os gêmeos”.
“Não seja
boba”, disse Clara, “não pode acontecer nada. Chaveie a porta, pegue seu
casaco, e venha conosco”.
“Paula”,
disse Maria, com tom impaciente, “você vem ou não? Talvez você não queira mais
ser nossa amiga”.
Paula
pensou por um instante, e então pegou seu casaco, que estava na cadeira, abriu
a porta e começou a sair, mas ficou em dúvida.
“Não”,
disse ela, “eu não posso fazer isto, eu prometi”. E voltando para dentro da
casa, disse: “Quero continuar sendo amiga de vocês, mas não posso quebrar minha
promessa”.
“Você tem
certeza que quer continuar sendo nossa amiga?”, caçoou Maria, enquanto ela e
Clara corriam pela rua escura.
Paula
sabia que era o fim de sua amizade, mas não podia fazer mais nada. Lentamente
fechou e chaveou a porta, e voltou para a cozinha.
A janela,
em cima da pia, estava um pouquinho aberta, e sentia o ar fresco, gostoso,
soprando em seu rosto. Parece que a noite estava ficando bem fria, e o vento
estava começando a soprar mais forte.
Paula
jogou longe o pano de secar pratos quando sentiu o cheiro de fumaça. Voltou
para a pia e procurou cheirar o ar que entrava pela janela aberta. Realmente
sentiu o cheiro de fumaça – como se fosse borracha queimando. Então teve a certeza de que alguma coisa estava queimando,
em algum lugar muito perto.
Ela correu
de quarto em quarto. Estava tudo em ordem, mas o cheiro de fumaça estava
aumentando. Ela abriu a porta dos fundos e
olhou para fora. A princípio não pôde ver nada, somente luzes na rua
vizinha, mas logo que seus olhos ficaram acostumados com a escuridão, ela viu
uma grossa nuvem de fumaça preta que subia para o céu. Não sabia exatamente a
que distância estava, mas não deveria ser mais do que meia quadra.
Fechou a
porta com toda a força. Seu coração batia muito acelerado. Parou no meio da
cozinha tentando pensar. Será que deveria chamar a Sra. Mendes? Será que
deveria acordar os gêmeos, caso tivesse que levá-los para fora de casa?
O som de
sirenes quebrou o silêncio. Os bombeiros estavam vindo! Seu coração batia ainda
mais depressa, e com mais força, enquanto os carros dos bombeiros, com suas
luzes vermelhas girando, tocavam a sirene pela rua. Eles diminuíram a
velocidade e pararam em frente da casa que estava duas portas mais para frente.
As pessoas saíram rápido de suas casas e corriam de um lado para outro da rua
gritando e chamando aos outros. Paula teve vontade de se juntar a eles e ver o
que estava acontecendo, mas devia permanecer junto dos gêmeos.
E assim
Paula ficou parada na frente da porta tentando ver o que estava acontecendo. A
fumaça fazia como um redemoinho por entre as casas. Algumas vezes ela tinha uma
visão das chamas furiosas. De repente ela viu a Sra. Mendes subir correndo as
escadas, seu rosto estava muito pálido.
“Você
ainda está aqui?”, perguntou a Sra. Mendes, com voz muito estranha.
“Naturalmente que estou”, disse Paula, orgulhosamente, “eu prometi que
não me afastaria da casa”.
A Sra.
Mendes se deixou cair sobre uma cadeira e escondeu seu rosto entre as mãos.
“Acho que estou agindo como uma boba,
mais fiquei muito apavorada da outra vez. Quando meus gêmeos eram ainda muito
pequenos, tive que sair por umas poucas horas. Eu pedi a uma menina para cuidar
dos bebês para mim; mas logo que cheguei na cidade, notei que tinha levado a
bolsa errada, e assim tive que voltar. A porta estava chaveada, e Clara tinha
saído. Eu não podia entrar em casa,
porque minhas chaves estavam na outra bolsa. Tive que subir em uma janela para
poder entrar em casa. Felizmente não tinha acontecido nada com os bebês, mas
isto ainda me deixa assustada, por pensar em todas as coisas que poderiam ter
acontecido”.
“A senhora
disse que o nome da menina era Clara?”, perguntou Paula.
“Sim”, respondeu a Sra. Mendes, “o nome era
Clara. Eu acho que deve ser sua amiga. E isto é uma coisa que me apavora”.
“Eu pensei
que Clara fosse minha amiga”, disse Paula, “mas, na realidade, ela não é. Ela e
Maria queriam que eu fosse com elas até uma lanchonete, mas eu disse que tinha
prometido não abandonar a casa”.
A Sra.
Mendes começou a sorrir. “Quando Clara voltou naquele dia e viu que eu estava
em casa, ela se virou e fugiu, e desde então nunca mais chegou perto de mim”.
Enquanto
Paula andava de volta para casa pela movimentada rua, estava muito agradecida porque não tinha permitido
que Clara e Maria a persuadissem a quebrar sua promessa. O fogo já tinha sido
apagado, e o ar estava limpo e fresco. As estrelas estavam brilhando e o
coração de Paula estava cantando.
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